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O trem

O trem apita sem pestanejar da mesma forma que apita meu coração e minha mente entra em revoada. A mesma revoada das preás que via sempre que ia ao trabalho: primeiro, à direita, depois à esquerda e por fim, subiam. Mas, para onde subiriam meus pensamentos? Deixo-me levar por essa ideia enquanto seguro minha maleta contra o peito e me recosto na janela. Para onde tudo isso iria? Olho para o relógio de pulso que marca 14:14, deveria eu então me desapegar de tais pensamentos.

O pistão velho da locomotiva deixa seu rastro de fumaça enquanto as pessoas da plataforma vão aos poucos se indo. O céu estava avermelhado, como meu coração, porém a vermelhidão dos céus iria passar.

O homem de rosto triste capta meus olhos e nossos olhos cansados se encontram pelo vidro da janela. Sua fadiga podia ser a mesma que a minha. O homem sério, de cabelos e bigode branco, se vai. Se vai o homem velho de bigodes brancos com o chapéu na mão.

As pessoas e casas se vão e tão logo há somente árvores pelo caminho. Árvores majestosas que me contagiam com o seu silêncio, sábio silêncio. Logo, estava tudo fora de cogitação. A cogitação se deu com as pessoas.

– Bilhete, bilhete! – grita um homem garboso com um furador na mão, me tirando de meu querido transe e provocando meu leve furor por um tempo. Mas, logo, o homem se vai e meu furor também.

Penso em pegar o jornal, ver as notícias dos tempos evoluídos, porém, no meio do caminho, deixo meu jornal e volto aos meus pensamentos sobre árvores. Hoje, o jornal não. Hoje, o jornal não. A moça formosa passa por mim e vejo o encanto em seus olhos esmeralda. Uma leve paixonite toma conta de mim, porém se vai com a moça dos olhos esmeralda.

Uma mola pula em meu peito enquanto um senhor de terno marrom e sapatos com graxa me olha admirado e com interesse voraz. Desvio meus olhos e ele parece fazer o mesmo.

eço dois dedos de conhaque ao camareiro que vai à cozinha e não retorna. Já me era óbvio que uma pessoa como eu não seria atendida. Olho de novo em meu relógio e vejo que só se passaram 3 minutos. A reunião no centro de convenções estaria cheia. Estaria cheia hoje a reunião no centro de convenções. Olho de novo pela janela e me perco em seu olhar, que era o meu próprio.

Caroline Franciele

Caroline Franciele é uma alma apaixonada que transforma emoções em versos. Inspirada pelo amor, pela natureza e pelos mistérios da alma humana, suas palavras dançam entre a melancolia e a esperança. Com um estilo envolvente e sensível, ela escreve sobre encontros e despedidas, sonhos e saudades, capturando a essência do romantismo em cada estrofe. Seus poemas são um convite para sentir profundamente, reviver memórias e se perder na beleza das palavras. ✨📖💖

Respostas de 2

  1. Bom dia, Caroline.
    A sua crônica é tocante, faz o leitor perceber como a percepção do tempo mudou. Antes, era uma presença suave, um guia natural para os afazeres e encontros. Hoje, ele nos escapa pelos dedos, fragmentado em agendas lotadas, compromissos urgentes e uma sensação constante de que nunca há horas suficientes.
    O texto expressa sensibilidade, com uma reflexão profunda sobre como gerimos nossos dias. O seu cantinho poético é, sem dúvida, um refúgio para quem deseja instantes de reflexão e ternura.
    Parabéns pelo texto, e que você continue nos presenteando com essa escrita tão cheia de alma. Saudações e um fraternal abraço.

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