Era encantador. Fascinante e encantador encontrar minuciosamente cada objeto intocado pelas heranças do tempo. A velha escrivaninha. O antigo aparelho televisor. O inestimável e figurativo armário. As nuances do relógio ricocheteavam longamente no interim da majestosa casa. Até mesmo o ar era paralisado na história.
Metodicamente organizada, aquela atemporal residência parecia o fluido eternizado de um longo poema lapidado pelas mãos do mais hábil contador de histórias.
Os ares relembravam minha distante mocidade emoldurada na pintura de Donatello. Tão frágil e bela era aquela recordação que sinto que, se pensasse muito nela, rapidamente se despedaçaria em milésimas partes.
Todavia, até mesmo sua queda seria lindíssima. Os açucarados cristais se espalhariam pelo magnífico ar. Seus fragmentos seriam esplêndidos, arrancando lágrimas e lamúrias do doce coração.
Paralisada na freneticidade dos tempos, sofrera calmamente com a ira de Cronos, raivoso titã que, invejado pela ternura transparente daquele lar, congelara-o nos relógios.
Eros, entristecido com o ódio relutante de cruel sina, concedera-lhe a ternura e paixão humana, livrando-a da angústia e solidão.
Salteada de risos, palmas e gracejos, segue aquele enamorado lugar. Paisagem dos deuses e sortilégio dos amantes da paz.
Não obstante, calem-se as vozes! Imediatamente calem-se os ruídos e clamores para que não se abale a suavidade do recôndito do tempo.
Uma resposta
Maravilhoso